Wednesday, April 9, 2008

Incommunicado - ou conversa de loucos

- Não gostas das minhas opiniões porque te incomodam. – Disse ela após soprar furiosamente o fumo do cigarro que havia inalado.
- Não me incomodam minimamente. Sou como sou e quem não gostar, paciência! - Respondeu-lhe ele numa atitude infantil que assumia sempre que sentia necessidade de se defender.
- Paciência o caraças! – Atirou-lhe ela – As atitudes que tomas e as coisas que dizes afectam as pessoas que te cercam e que, para tua informação, gostam de ti e se preocupam contigo. Achas que podes viver isolado, do alto da tua arrogância? Olha à tua volta, olha para mim. Se eu estou aqui é porque sou uma dessas pessoas! Por isso não digas que “quem não gostar, paciência” ou estás-te a borrifar para aquilo que eu sinto?
Com um trejeito de irritação ele encolheu os ombros e atirou o rosto para o lado. Voltando a fixá-la, com um brilho de fúria a instalar-se-lhe no olhar encimado pelo sobrolho carregado, respondeu – Mas quem é que disse que eu me estou a borrifar para aquilo que tu sentes?
- Tu! Retorquiu ela.
- Eu?
- Sim, tu. “Sou como sou e quem não gostar, paciência” para mim isso significa que te estás a borrifar para o facto de eu gostar ou não das tuas atitudes!
Ele pegou no maço de tabaco de onde retirou mais um cigarro que acendeu nervosamente.
- Tu tens direito às tuas opiniões, mas eu tenho o direito de discordar delas. O que tu querias era que eu concordasse com tudo aquilo que tu dizes. Se assim fosse não haveria discussões. Acontece que se eu tenho determinadas atitudes é porque sou assim, ponto final. Não tenho de ser simpático ou aturar fretes para agradar aos outros.
- “É porque sou assim ponto final” o que é que isso significa? Que mesmo quando ages mal não queres saber das consequências que os teus actos têm nos outros é? – A irritação dela subia de tal maneira de tom que os seus cabelos já se encontravam em desalinho, de tantas vezes lhes mexer com as mãos.
- Epá, não há paciência! Mas estás armada em quê? Agora vais-me dizer que tenho que explicar e destrinçar cada palavra que digo, não?
- Bem podias! É que se pensasses bem antes de falar talvez te saísse um discurso mais fundamentado. Sabes que não tens razão, por isso só me atiras com retóricas e evasivas.
Ele cruzou os braços numa atitude de impotência – Não vale a pena, não se pode conversar contigo.
Perdendo finalmente a compostura e ouvindo o seu próprio tom de voz elevar-se involuntariamente ela gritou-lhe – Conversar? Conversar? Pois agora não me apetece mais conversar... e quem não gostar, paciência!

Tuesday, April 8, 2008

Esperança * Hope * Espoir * Speranza * Hoffnung * Hoop * 希望 * 희망 * ελπίδα * упование

Traumas, desilusões, frustrações, esperanças goradas, fazem parte da bagagem que carregamos pela vida e são tão inevitáveis quanto o é um dia após o outro.
Em maior ou menor escala todos sofremos decepções em algum ou em vários momentos ao longo dos anos. Marcam, caracterizam e determinam comportamentos e é esse facto que lhes confere importância. Mesmo aqueles insucessos dos quais nos rimos mais tarde deixam o seu marco, ainda que imperceptível no plano consciente.
Dada a sua inevitabilidade, resta-nos aprender a lidar com as más experiências e também com os seus efeitos. Trata-se de um trabalho duro e não raras vezes doloroso, sendo em muitos casos, dependendo da gravidade da questão, um trabalho a desenvolver pela vida fora. Tomar consciência dessa necessidade é apenas o primeiro passo.
Estar na - e de bem com a - vida é uma aprendizagem que passa primeiramente por um conhecimento do nosso próprio ser, sem virar a cara ao que temos cá dentro de negativo e sem fugir das dores que sofremos no passado, antes, encarando-as e crescendo sobre elas.
Não me arrogo a autoridade psicanalítica. Nada de novo no que digo acima. Apenas conheço cada vez mais gente desprovida de ânimo e de esperança. A descrença na vida, nas pessoas, no amor e em tudo o que é positivo pautam os seus dias, os seus discursos, as suas atitudes. Fecham-se em casa, impedem-se de viver e, pior do que isso, fecham-se dentro de si próprias como se erguessem muros altos e intransponíveis.
Esta mensagem é para essas pessoas - eu tenho esperança, afinal até o muro mais intransponível da história ruiu um dia.

Monday, April 7, 2008

O pior cego...


As pessoas só vêem aquilo que querem ver.

Constatação

Quando não sabemos bem o que queremos o pior que podemos fazer é não o admitir.

Wednesday, April 2, 2008

Adeus minha linda

Hoje perdi uma fiel amiga. Uma amiga que me dedicava um amor incondicional, um carinho sem limites e uma dedicação inimaginável em qualquer ser humano.
A minha casa não mais será a mesma. Agora mesmo enquanto escrevo de portátil no colo te sinto a falta. Deverias andar por aqui enroscando-te nas minhas pernas procurando captar-me a atenção.
A vida é muito frágil, demasiado frágil, obrigada por teres passado pela minha.
Descansa em paz.

Tuesday, April 1, 2008

Vidinha boa!

Estes dias de primavera, depois da mudança da hora, deixam-me pura e simplesmente feliz. Chegar a casa ainda de dia e saber que, mesmo perdendo 30 minutos na caixa do supermercado, ainda tenho tempo para ler o meu livrinho à doce luz do entardecer faz-me sentir que afinal ainda tenho alguma qualidade de vida!
E logo este que me está a prender de tal forma que o vou devorar de um trago.
Poucas coisas me conferem esta sensação morna e deliciosa do prenúncio do Verão. Nasci nos trópicos e sou do calor!

Monday, March 31, 2008

Felicidade é...


Virar-me instintivamente sem acordar e procurar o teu corpo, que se encaixa no meu, na perfeição.

Thursday, March 27, 2008

Preciso

Disto:


disto:




disto:




disto:
e disto:

Da série Dúvida campainhana

A prudência adverte que nem sempre os sentimentos se devem sobrepôr à razão. Pergunto eu: e que fazer com os sentimentos reprimidos pela razão? olhar para o lado à espera que eles passem?

Wednesday, March 26, 2008

Caminho

Entristece-me que a minha vida seja objecto de comentários à mesa do café.
Entristece-me que a minha felicidade incomode os outros.
Entristece-me que o meu sucesso em algumas áreas desperte a cobiça de alguns.
Entristece-me que algumas pessoas confundam preocupação com critica invasiva da minha privacidade e do meu livre arbítrio.
Entristece-me que o pretexto da amizade ultrapasse em alguns aspectos os limites da minha esfera pessoal, que só a mim dizem respeito.
Mas nada me retira a convicção de que este é o meu caminho. Sou um ser livre, completo e feliz com o que tenho.
Adoro a vida, mesmo quando me queixo, e estou grata, muito grata, por tudo o que ela me dá, todos os dias, em todos os momentos.

Tuesday, March 25, 2008

Gi, um beijinho para ti!

Estava eu feliz da vida, fatinho domingueiro e postura aprumada quando uma voz chama por mim.
- Trim trim!!
Meio assarapantada digo assim:
- Quem é?
Respondem-me:
- Olha para aqui! Sou eu, a Gi!
Pensei para com o meu botão “Já me meti num 31, e como este não há nenhum!”
Virei-me meio espantada, e assim, vindo do nada, caiu o flash número 1!

A Gi, exímia fotógrafa, ficou tão contente que não resistiu à tentação e disse:
- Vou tirar mais uma foto para celebrar a ocasião!


E digam lá se não fiquei Gi-ra!

Obrigada Gi, foste uma querida. Amei as fotos!

Monday, March 24, 2008

Da série Considerações idiotas sobre a estupidez humana



Será que dissecar a vida alheia gera a libertação de endorfinas na corrente sanguínea?

Wednesday, March 19, 2008

És tu



A minha pele gosta da tua. Gosta de lhe sentir o calor e o toque. A pele dos meus braços gosta de se enrolar nos teus contornos. A minha boca gosta do teu pescoço. Os meus ouvidos gostam da tua respiração. Os meus olhos gostam dos teus, perfeitos que são. As minhas narinas gostam do teu cheiro, procuram-no enfeitiçadas. As minhas pernas gostam de se enroscar nas tuas e os meus pés adoram ficar presos nos teus enquanto dormimos.
O meu espírito rejubila com a tua gargalhada. O meu coração cresce quando te percebe o enlevo, o carinho e a dedicação e bate mais forte quando te sente cúmplice, completo, feliz. A minha mente delira quando brincamos que nem tontos e dizemos as coisas mais disparatadas. Os meus nervos apaziguam quando te encontram presente, protector.
Todo o meu corpo dói quando me afasto de ti e a minha alma chega a casa quando encontra a tua.

Em momentos de tensão


Nada é melhor do que respirar fundo, afastarmo-nos do ponto de tensão, visualizar uma imagem de paz e tranquilidade, e então sim, voltar à questão

Monday, March 17, 2008

Sem título

Com o repente de uma enxurrada desavisada vomitou, por entre lágrimas e soluços, o aperto que lhe consumia o peito e não lhe saía nas gotas de suor destiladas nas noites de pesadelos em que acordava desesperada gritando.
O peso que a esmagava sobre os ombros, qual pressão atmosférica em dias de nuvens rasteiras, que se repetiam em expoente infinito e a impediam de vislumbrar a esperança para além da tormenta, saía-lhe agora, como se afinal fosse tão simples quanto isso parar de se torturar.
O choro redentor durou um bom quarto de hora sem que conseguisse proferir palavra, após o que, lavados em sal, desfilou um rol de queixumes ressentidos. Era-lhe difícil assumir que não sabia para onde ia. Contudo, prostrava-se agora, sem roupagens, sem guardas ou máscaras, perante aquele a quem nunca dissera ser o amor da sua vida, apesar de o sentir, em todos os seus poros, em cada célula, em cada milímetro da sua pele, em cada inspiração, no mais profundo do seu ser.
Ele, silencioso, olhava-a com o olhar do amor que é maior do que a própria vida. Seguro, pousou-lhe o braço sobre os ombros e puxou-a para si, o corpo magro de rosto trigueiro, agora transfigurado pelas convulsões. Colou-lhe os lábios na testa vincada pela expressão esgaçada que mantinha ainda e sem os afastar murmurou-lhe em tom doce e tranquilo "amo-te, vai ficar tudo bem". E nesse momento ela soube que sim, que tudo iria ficar bem. Ergueu a face, limpou uma última lágrima que escorria, fixou-o, franca e transparente, respondeu-lhe "és o amor da minha vida".

Post motivacional para uma manhã de 2ª feira


“a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
É feita em cada entrega alucinada
para receber daquilo que aumenta o coração”
Mafalda Veiga
Restolho

Friday, March 14, 2008

Considerações idiotas sobre a estupidez humana

Neste país a imbecilidade é “premiável”, recebe-se prémio por meter água.

Thursday, March 13, 2008

Dúvida campainhana



Porque será que as pessoas procuram problemas onde eles não existem?

Wednesday, March 12, 2008

Note to self





Preciso de reorganizar a minha vida

Tuesday, March 11, 2008

Há dias em que a vida me entristece

A solidão arrasta multidões


multidões solitárias arrastam-se pela vida
e muitos disfarçam a solidão
contentando-se com o pouco
ou nada
que obtêm das companhias vazias de sentido
e desprovidas
de amor.

Monday, March 10, 2008

E se....

Não gosto muito de pensar nos “ses” porque se eu fosse qualquer outra pessoa, com quaisquer outras qualidades e defeitos, então eu não existira! (grande momento de filosofia de algibeira), mas respondendo ao desafio da Gi, aqui ficam alguns “ses” que, por paradoxo, até me definem de alguma forma:

Se eu fosse um mês seria... Julho
Se eu fosse um dia da semana seria... sexta feira
Se eu fosse um número seria... 27
Se eu fosse um planeta seria... Terra
Se eu fosse uma direcção seria... para Sul
Se eu fosse um móvel seria... sofá
Se eu fosse um liquido seria... água
Se eu fosse um pecado seria... gula
Se eu fosse uma pedra seria... salgada
Se eu fosse um metal seria... prata
Se eu fosse uma árvore seria... salgueiro
Se eu fosse uma fruta seria... manga
Se eu fosse uma flor seria... girassol
Se eu fosse um clima seria... tropical
Se eu fosse um instrumento musical seria... saxofone
Se eu fosse um elemento seria... água
Se eu fosse uma cor seria... azul
Se eu fosse um animal seria... racional
Se eu fosse um som seria... como disse a Gi, e muito bem, dlim dlão
Se eu fosse uma canção seria... impossível escolher uma
Se eu fosse um perfume seria... L’eau D’issey
Se eu fosse um sentimento seria... felicidade
Se eu fosse um livro seria... Cem anos de solidão
Se eu fosse uma comida seria... cozido à portuguesa
Se eu fosse um lugar seria... ao pé do mar
Se eu fosse um gosto seria... doce
Se eu fosse um cheiro seria... suave
Se eu fosse uma palavra seria... Amo-te
Se eu fosse um verbo seria... sorrir
Se eu fosse um objecto seria... um balão
Se eu fosse uma peça de roupa seria... um casaco
Se eu fosse uma parte do corpo seria... olhos
Se eu fosse uma expressão seria... um sorriso
Se eu fosse um desenho animado seria... existe um Mr. Magoo em versão feminina? Vasco Granja, help!
Se eu fosse um filme seria... A insustentável leveza do ser
Se eu fosse uma forma seria... uma forma de amar
Se eu fosse uma estação seria... Verão
Se eu fosse uma frase seria... “nunca digas nunca”

E se estiverem para aí virados, se ainda não tiverem recebido este desafio, se vos apetecer e se vos der na real gana a vontade de responder, passo a outro e não ao mesmo:

Ao Alf, que ainda deve estar a abanar a cabeça lá pelo Jardim depois de ter ido ver os The Cure;
Ao Esplanando, sei que não faz bem o seu género, mas que tem andado a "posts rápidos" ;)
Ao PDuarte do Último Pingo que até já teve uma discussão com o chefe que acha que as visitas andam fracas;
E à Su, que diz que anda meio perdida ;)

Se quiserem podem reclamar, pronto!

Âmago


Vê-me.

Esfrega os olhos para limpar a névoa e vê-me com clareza. Nítida.
Só tu sabes quem eu sou, para lá do corpo, muito para lá dos actos ou das palavras.

Por isso vê-me.

Thursday, March 6, 2008

Humildade precisa-se


Há coisas que não compreendo e que tenho muita dificuldade em processar. Acho que o orgulho é das piores características humanas, um defeito.
O que é que leva as pessoas que cometem um erro, e que têm consciência de que se trata de um erro, a defendê-lo com unhas e dentes, levantando subterfúgios e falsas argumentações? Para quê? Porquê? Será que tomam os outros por estúpidos? Será por despeito, ou pior, fala de respeito pelos outros? Será que acreditam mesmo que sairão elevados por não darem o braço a torcer?
Não compreendo! Nenhuma das acima mencionadas me parece uma razão válida, dado que para os outros fica claro que o pior não é aquela pessoa ter errado, mas sim o facto de não ser capaz de admitir que errou, o que já revela questões de carácter!
Será que Freud explica?

Wednesday, March 5, 2008

Inocência


Eu que achei que tinha perdido a inocência há muito tempo atrás...
descubro agora que a perdi há pouco,
quando conheci a culpa e o remorso.
...
Somos os nossos piores inimigos.

Sometimes


You just want ...

...to be

left...

...alone

Tuesday, March 4, 2008

Shiuuuu, o blogue dos segredos

"Confess yourself or go to hell" é o mote deste original blogue que descobri ao andar por aí a tocar de porta em porta.
A ideia traduz-se num desafio do autor - os segredos que lhe sejam confessados por e-mail, sob o compromisso de total anonimato, serão publicados em forma de imagem.
As fotos são da sua autoria e o resultado é um espaço que, sem ser indiscreto, associa a natural curiosidade que os segredos despertam a uma criatividade que promete.
Chama-se Shiuuuu e foi criado em Fevereiro. Atrevem-se?
Vão lá dar uma espreitadela.

Anda


Vem comigo.
Voaremos para longe.
Ao sabor do nosso amor.
Em qualquer lugar seremos felizes.
Mesmo no céu.

Monday, March 3, 2008

Estou curiosa!


Tenho andado sôfrega pelas leituras e ultimamente atiro-me aos romances históricos como se não houvesse amanhã. No entanto estou curiosa com este livro que fala de um suposto Grande Segredo, conhecido de grandes espíritos como Einstein ou Galileu Galilei, e que consistirá numa “lei da atracção” – atraímos aquilo que queremos atrair.
Se bem entendo o “teaser”, concordo que a nossa atitude é determinante face às coisas que atraímos (já dizia uma música muito antiga, “smile, and if you do, you smile and the world smiles too”), até aí tudo bem, mas isso não é segredo nenhum!
O que me desperta a curiosidade é que este parece ser um livro que vai além do estilo auto-ajuda que pulula pelas livrarias. Diz-se no Portal de Leitura que teve por base um documentário realizado para a televisão australiana e uma série de entrevistas levadas a cabo pela autora, Rhonda Byrne, a pessoas que supostamente conhecem o dito “Segredo”.

É um sucesso de vendas e suscita-me uma questão: será de facto um livro com substância e interesse ou trata-se de mais um exemplar instantâneo sobre como ter sucesso em X lições?
Já alguém o leu?

Dark (é o título que me ocorre para este post)

Há acontecimentos que nos marcam para o resto da vida, sabia-o de ouvir dizer. Uns vinham da fatalidade, outros de actos próprios cometidos deliberada ou inadvertidamente num encontro fortuito com a imprudência.
Tinha para si que a supremacia da correcção e do bom senso é a salvaguarda de qualquer situação eticamente menos confortável. Desconhecia no entanto que as zonas cinzentas têm por vezes o poder de se sobrepor, de nos enrolar e arrastar como ondas furiosas e nos toldar os sentidos, e mais ainda, o discernimento.
Pois que Guilhermina deixou-se levar por uma dessas ondas em tons de cinza e, num atabalhoamento emocional encontrou-se dividida entre o que realmente desejava, as opiniões de terceiros e o moralmente aceite. Para ajudar à festa, os acontecimentos em seu redor precipitaram-se no sentido de a levarem a tomar uma decisão rápida e que ainda mal tinha tido tempo de amadurecer.
O que se seguiu depois foi um chorrilho de tormentos. Guilhermina foi fustigada por uma maré de correntes violentas. Da esquerda e da direita vinham impulsos externos, contraditórios, e que a lançaram num autêntico furacão emocional. Em última instância, olhar em frente representava confrontar-se consigo própria, com os seus medos e sentimentos de culpa.
Tentando equilibrar-se, Guilhermina sentiu uma necessidade irreprimível de se afastar do centro da tormenta. Teve de isolar-se para reflectir. Demorou-se a processar todos os factores e a arrumá-los devidamente. Por fim concluiu que o seu principal erro foi não se ter ouvido a si própria, bem lá no fundo. Saiu deste acontecimento com a sensação de que a sua vida não voltaria a ser a mesma. Não desejara nada daquilo e não poderia prever as consequências, mas tomara decisões. Alimentou um sentimento de culpa que carregaria pelo resto dos seus dias e esmoreceu perante a ideia de que o positivismo da correcção e do bom senso caíra por terra.

Thursday, February 28, 2008

Na outra margem sou feliz


Vim para Lisboa há 15 anos. Sou da província, portanto, mas conheço bem a realidade da vida urbana, desde a loucura estudantina aos tempos do “desenrasca-te sozinha e paga as tuas contas que é assim que tem de ser”.
Já gostei mais de viver nesta cidade, principalmente na fase do deslumbramento por tudo aquilo que ela tem para oferecer a quem dela pode desfrutar. Também já gostei menos dela, quando andava de transportes todos os dias e me confrontava com as caras miseráveis das 7h da manhã e depois com as caras furiosas das 6h da tarde.
Neste momento já não gosto nem deixo de gostar. Tenho uma vida confortável, moro numa zona privilegiada, mas certo é que a sedução da grande cidade já pouco me diz, certo é também que faz muito que não me encontro com ela à noite, mantenho-me por cá porque ela me sustenta. Passo por ela despercebida, quase já nem a olho. Entrei no marasmo lisboeta e apenas sobrevivo na cidade.
Talvez por culpa minha, talvez por culpa da vida, talvez por culpa de Lisboa.
O meu casamento com Lisboa tem 15 anos. Passei a fase do enamoramento e da paixão, passei pela lua de mel da descoberta e do fascínio, ultrapassei as zangas e as adversidades, cheguei à fase da monotonia e da indiferença. Nos fins de semana escapo-me, vou namorar uma antiga paixão, depois volto, infeliz por regressar, mas também conformada. Penso muitas vezes no divórcio! Estou só a ganhar coragem.

Deixo na marcha a marca doce
Dum passo alegre por voltar
Na outra margem, sou feliz
Invoco a Terra, campo em flor
Um mau olhado por Lisboa
Rio da sorte e maus caminhos
Linha entre a dúvida e o desejo
Pão tão difícil
Incerteza, d´amanhã

Vou no vapor da madrugada
A minha estrada vai prò Sul
Dá-me um abraço d´encantar
Volto para o fundo dum olhar
Meiga paixão ao Sol do Estilo
Rubra papoila fugidia
Encontro certo no trigal
Nada me prende, vou-me embora
Vou prò Sul...

Vitorino
Sul

Wednesday, February 27, 2008

Parece que dei o que pensar!


O que muito me lisonjeia e que muito agradeço à Gi, ali do 31.

Nos passeios que faço por aí encontro muitas mentes que me fazem pensar, mas dado que este prémio se destina às meninas, aqui vão algumas que costumo visistar e que considero dignas de o receberem:

a Eyes, pelo bom gosto e profundidade de ideias e sentimentos;
as meninas do Sexo e a Ansiedade que espero voltem em força brevemente;
a Su, que foi uma das primeiras visitantes deste blogue;
as meninas do café, pelas gargalhadas que me arrancam não raras vezes;
a a. pela beleza tocante, pela paixão que escreve e com que escreve;
e a Maria com quem muito me identifico no que toca às reflexões sobre os homens, as mulheres e as relações.

Não são 10 mas são as que me fazem voltar sempre e que me dão que pensar por todos os motivos que descrevi acima.
Parabéns a vocês.

Mais uma vez, obrigada Gi, não só pelo prémio como também pela boa disposição e good vibes com que nos presenteias todos os dias. O teu 31 é um dos meus "musts".

Tuesday, February 19, 2008

Nostalgia

Ou de como os 80's ainda me põem aos saltos em pleno horário laboral!

Monday, February 18, 2008

Nobre criatura

Ela tinha uns olhos bonitos e um sorriso largo, franco e cativante. Não era particularmente bonita, mas também não era feia. Tinha um raciocínio rápido e preciso pelo que era considerada uma pessoa inteligente. Vestia-se bem, sem no entanto ser demasiado formal.
Era alta e apesar de ter um carácter aprazível quando a conhecíamos, a sua presença e postura de polido distanciamento não deixava de intimidar os mais inseguros.
Cercavam-na variadíssimos tipos de pessoas, que dela tinham múltiplas perspectivas. Nós, os amigos, nutríamos por ela o carinho de quem a sabia solitária e frágil para lá da muralha que muitos viam nela. Sentíamos até uma espécie de dever de protecção, um sentimento quase consanguíneo, daqueles que por instinto nos impelem a defender os nossos.
Alguns temiam-na. Particularmente aqueles que no primeiro impacto davam de caras com o seu semblante sério, quase que rígido. Esses mantinham-se na sua margem, sem no entanto se afastarem, como se esse algo que lhes impunha respeito exercesse sobre eles um simultâneo efeito magnético.
Havia também aqueles que a invejavam. Ela nunca percebeu porquê. Mas eu sempre achei que a fronteira entre o medo e a inveja é bastante ténue. Ela representava muitas coisas. Acima de tudo representava a honestidade e a lealdade, a educação e a formação, e apesar de, na realidade, não possuir muito, o que tinha era fruto da sua batalha pessoal, pontuada por muito esforço e sofrimento.
Costumava comentar que a incomodavam os olhares invejosos, até porque não via motivo que os justificasse, mas acabava por retribuir tais olhares com os seus sorrisos impressionantemente sinceros.
Sentia-se muitas vezes incompreendida e nunca conseguiu definir o que era para si ser feliz. Talvez por isso nunca se tenha sentido verdadeiramente feliz.
Era uma criatura nobre. Daquelas especiais com que nos cruzamos na vida e nunca chegamos a compreender o que lhes falta verdadeiramente e porque as suas vidas seguem percursos tão sinuosos.
Acho que deve haver uma ordem superior, uma razão para lá do nosso alcance, um sentido. Tem de haver…

Wednesday, February 13, 2008

Growing up sucks!

Ouvi muitas vezes a minha mãe dizer que gostaria de voltar a ser criança. E também não raras vezes ouvi a expressão “quem me dera voltar a ser jovem e saber o que sei hoje”. É seguramente um sinal da idade quando começamos a ter estes pensamentos de forma mais ou menos recorrente.
Caramba, isto de ser adulto é de facto um mau negócio! O pior é mesmo ter um espírito ainda meio infantil dentro de num corpo que já passou dos 30. Digo “pior” porque nos exigem as responsabilidades de um corpo que já passou dos 30, quando o que queríamos mesmo era poder dizer “oh pai, resolve tu isso que eu vou ali borregar para o sofá a ver as séries da FOX!”
Sinceramente, acho que não trocava a vida que tenho para ter a possibilidade de ser outra vez criança, mas que muitas vezes dá vontade de dizer “não brinco mais, pronto”, acompanhado de uma língua bem esticada para fora, lá isso dá!

Friday, February 8, 2008

As frases da minha vida # 2

"If I had no sense of humor, I would long ago have committed suicide."
Mahatma Gandhi
1928

Wednesday, February 6, 2008

Tempos

De tempos a tempos há tempos assim. Críticos, macambúzios, enfadonhos.
De tempos a tempos o tempo não ajuda e prolonga-se preguiçosamente como se se recusasse simplesmente a colaborar.
De tempos a tempos sinto saudade de outros tempos.
De tempos a tempos sou eu que não tenho tempo, ou tenho-o em demasia para reflectir sobre o que vale e o que não vale o meu tempo.
Uma perda de tempo este tempo desgostoso, triste, pesado.

Thursday, January 31, 2008

Excepção

Quem disse que mais vale arrependermo-nos de algo que fizemos do que de algo que deixámos de fazer?
Em verdade vos digo que me arrependo amargamente de algo que fiz e que daria tudo para ter a possibilidade de voltar atrás.
Se toda a regra tem excepção, para mim esta é a excepção que desmente a regra.

Wednesday, January 30, 2008

Hoje apetece-me

Estou um bocado farta de pessoas que sabem como viver, como manter uma relação equilibrada, como ser um bom profissional, como comprar carros ou computadores.
Não estou com paciência para aqueles “Não tem de ser assim tão difícil”, ou os “o segredo está no equilíbrio entre o que se dá e o que se recebe”. Vão pastar com os “ah porque eu também já passei por isso” e com os “pressão todos nós sofremos, seja em que trabalho for”.
Para o raio com os “vais comprar esse carro?? Se eu fosse a ti não fazia isso, olha que essa marca só dá problemas!” e também os “um portátil por esse preço? Não presta para nada!”.
Hoje só me apetece... eh pá, como dizer?.... mandar tudo à merda.

... desculpem lá o mau feitio!

Tuesday, January 29, 2008

Um dia diferente

Naquele dia o habitual repicar matinal do sino na torre da igreja matriz, contígua ao castelo mourisco de onde se podia ver o mar, pareceu-lhe algo diferente. Assomou-se à janela do quarto onde dormia há mais de 50 anos à procura dos familiares e reconfortantes tons da natureza que cercava o casoto branco de piso térreo, e que todas as manhãs lhe lembravam de que viver ainda valia a pena.
Rudolfo Capela precisava desse estímulo como de pão para a boca. Desde a morte da mulher que se entregara a uma solidão profunda, disfarçada apenas pelas breves visitas semanais à Venda Grande de onde trazia consigo notícias do dia-a-dia do lugarejo.
Tinha por única companhia as laranjeiras e a horta a que se dedicava com um fulgor extremo e uma azáfama diária que lhe conferiam com toda a propriedade a sua única razão de viver.
Não pensava na solidão. Na realidade não pensava em nada. Habituara-se a sobreviver ao ritmo da natureza e do passar dos dias.
Naquele dia, no entanto, sentiu-se tomar consciência. Começou com um leve suspiro e em breves instantes a salada de cores que avistava pela janela deixou de lhe parecer colorida. Pensou que de nada servia o seu trabalho pois a natureza seria sempre mais forte e poderosa do que as suas acções repetidas todos os dias em esforços escusados para a dominar. Pensou que era apenas uma triste criatura, impotente para com a vida e para com a ordem das coisas.
Rendeu-se. Naquele dia baixou os braços. Sentou-se na soleira e ali permaneceu imóvel, de expressão abandonada. Abandonou-se abandonando o que o mantinha vivo. Era só mais um dia, mas este era diferente e jamais os que se seguiriam voltariam a ser como antes. Sabia-o, e sabia também que os dias que se seguiriam seriam já poucos, muito poucos.

Monday, January 28, 2008

Alma gémea

Pousou-lhe suavemente a mão larga no cabelo e deixou que os seus dedos se entrelaçassem nos fios suaves e lisos tom de amêndoa, em movimentos docilmente lentos.
O desenho perfeito das suas sobrancelhas enquadrava aquele olhar que lhe falava da certeza do amor como a inexorável madrugada depois da noite, aquela madrugada que atravessavam despertos, os seus corpos nus sobre a cama, abandonados ao torpor.
Para ela o corpo dele era a sua casa, o seu regaço o único lugar do mundo de onde sabia que nunca haveria de partir. Para ele ela era a luz, a razão última de viver.
Assim abraçados deixaram o tempo passar. No ar o cheiro intenso da entrega. No íntimo a convicção do que é certo. Na alma a memória difusa e anacrónica de outros corpos, outros cenários, outras vidas, mas o mesmo amor.

As frases da minha vida # 1

"Era um amor à Romeu, vindo de repente numa troca de olhares fatal e deslumbradora, uma dessas paixões que assaltam uma existência, a assolam como um furacão, arrancando a vontade, a razão, os respeitos humanos e empurrando-os de roldão aos abismos."
Eça de Queiroz
in Os Maias

Monday, January 21, 2008

Great wide open

Naquela manhã percebeu que algo estava diferente. Pequenos nadas em que mal havia reparado ao sair de casa, como a música que cantarolou no carro a caminho do emprego, o bom dia que atirou com um sorriso ao segurança ou a breve troca de cumprimentos afáveis com o porteiro que lhe entregou o correio.
Depois tomou consciência da leveza do seu caminhar ao dirigir-se ao Multibanco, da forma curiosa como observava o ritmo do quotidiano à sua volta, do quanto lhe agradou aquela brisa suave e fresca a acariciar-lhe o cabelo.
Surpreendeu-se com pequenas interjeições de agrado que registou mentalmente ao dar-se conta dos raios de sol naquela manhã de Inverno.
Havia estado dormente durante tanto tempo que se esquecera do facto de que a vida passava inexorável, indiferente à sua letargia. O rosto ainda revelava os vincos de um semblante fechado que carregara como um peso morto que tinha dificuldade em aliviar, mas as linhas começavam agora a traçar-se em diferente direcção.
Sentiu-se bem. Sentiu-se caminhar direita, o olhar límpido, nítido, sem lágrimas distorcendo o chão debaixo dos seus pés. Nem sequer olhou para o chão. Olhou em frente. Olhou para cima. Para o imenso azul que lhe recordou que as suas possibilidades são assim, infinitas.

Digam o que quiserem!

Quem escolhe o meu caminho sou eu.

Wednesday, January 16, 2008

Home, (bitter)sweet home

Estava eu assumidamente à espera que me batesses à porta! Acabei por ser eu que bati à tua. Quando menos esperavas, no momento mais importante. E nem eu sabia que haveria de o fazer. A vida tem destas coisas não é?
Batemos com a porta por várias vezes. Já fechámos janelas, já abrimos frestas, já entrámos e já saímos.
Agora nem sabemos bem se havemos ficar do lado de dentro ou do lado de fora. Já reparaste que, regra geral, um de nós sabe sempre o que fazer? Desta vez é diferente não é?
Pois… de facto desta vez não estás no melhor canto do sofá. Aí, onde te sentas agora, não é tão confortável pois não? Bem sei, sentei-me aí muitas vezes. Lamento sabes? Lamento mesmo, por tudo.
E lamento não conseguir arrumar a casa e deixá-la a brilhar, como sempre fiz. Sei que estás a esforçar-te para seres tu a fazê-lo desta vez. Não te esqueças de sacudir as almofadas e endireitar com carinho os lençóis no meu lado da cama.
Sim, desta vez é muito diferente. A mobília mudou de lugar. Aliás, esta mobília é outra! não é a nossa pois não? Não é aquela que conhecíamos e que nos permitia identificar este espaço como sendo o nosso.
O nosso refúgio era seguro desde que nada se alterasse...
É verdade. Muito do que era se alterou. Já não sabemos onde estão as nossas coisas. Sabemos que elas existem, no entanto.
Onde será que foram parar as nossas coisas?
Vá, anda, eu ajudo-te a procurar.

Monday, January 14, 2008

Tudo o que está dito e feito

Tudo o que eu queria era ter uma borracha. Tantas coisas importantes na vida e o que eu queria mesmo era ter uma borracha. Casas, carros, roupas, jóias, tudo isso tão pouco me serve. Eu queria mesmo era o raio da borracha.
Primeiro apagava as palavras. Começava pelas duras, depois pelas de desconfiança, apagava mesmo aquelas pequenas frases sem importância mas que ficaram escritas algures naquela página a que voltamos inadvertidamente. Sabes qual é? Aquela que quando o livro cai é sempre a que se abre mais facilmente.
Uma a uma apagava as palavras que descrevem o medo, as que contam os segredos escuros, depois as que revelam os tormentos da mente e do coração.
Passava depois para os actos. Apagava todos aqueles que feriram, todos. Não deixava um. Por fim passava para as omissões, daquelas que doem pelo simples facto de o serem, e também as apagava todas.

... Mas sabes? Se o fizesse ficávamos sem a nossa história e com um conto de fadas, melhor, ficávamos com uma mentira. E eu não minto.

Monday, January 7, 2008

Ich bin heraus während der nächsten Tage

É assim que vou ouvir falar durante os próximos 3 dias.

Bis bald

Sunday, January 6, 2008

Question mark

Debato-me muitas vezes com uma velha e clássica questão: a necessidade de aprovação.
A procura do caminho certo é uma tarefa hercúlea e queremos muitas vezes sentir que as nossas escolhas têm um contexto qualquer e que são as mais indicadas para nós, mesmo quando não são.
Eu sou daquelas pessoas que se questionam sempre. Mas sempre, sempre. E raramente tenho certezas do que faço ou das opções que tomo. Penso sempre se será a melhor coisa a fazer, se estarei a ser correcta para comigo e com os outros, se me irei arrepender mais tarde.
Enfim, chamem-lhe insegurança ou o que quiserem, eu sou assim. Mas o facto de me questionar não me impede de seguir em frente.
Há uma coisa que já percebi - o supra sumo do correcto não existe. Aquilo que parece a decisão mais acertada pode resultar num monumental fracasso e o que à partida pode prenunciar um erro crasso poderá vir a transformar-se no melhor que poderíamos ter feito.
Independentemente disso analiso minuciosamente cada questão, destrinço cada factor e cada motivação na busca de algo que me oriente, de uma resposta definitiva a que acabo por nunca conseguir chegar.
Mas isso não me basta. Não raras vezes preciso de opiniões externas, de pontos de vista diferentes, independentes. Acabo por perceber que na realidade procuro respostas dentro e fora de mim.
O reverso da medalha é que acabo por me expor demasiado e quando vou em frente, com um ponto de interrogação a piscar-me na cabeça, vou também com o olhar de reprovação daqueles que ouviram as minhas questões e emitiram as suas opiniões.
Já tive a arrogância de pensar saber o que está certo e o que está errado, princípios moralistas à parte, e emitir juízos de valor sobre situações que me eram alheias. Já tive também a presunção de proferir diagnósticos sobre a sanidade emocional de outras pessoas por discordar das suas escolhas.
Mas bastou alguma introspecção e alguma humildade para perceber que eu não sou ninguém para emitir tais juízos. Na verdade o que se passa dentro de cada um e as respectivas motivações são campos para nós totalmente desconhecidos, e por mais dúvidas que se tenha cabe a cada um dar os passos que entende, no uso da sua mais inegável liberdade para o fazer.
Depois olho à minha volta e observo as opções dos que me cercam. Os passos que deram, os caminhos que escolheram e os sítios a que chegaram. Independentemente de qualquer juízo foram as suas escolhas, cada uma com as suas motivações e condicionantes, as que se vêem e as outras que estão no âmago de cada um.
Chego a uma única conclusão. Quem não tiver telhados de vidro que atire a primeira pedra. E há muita gente por aí a ver a lua e as estrelas, deitados nas suas camas.

Saturday, January 5, 2008

Energias

Percebi pelo telefonema que desfilava um rol de desculpas amanhadas à pressa entre goles de café. Senti-lhe o nervosismo que se libertava em pequenas e múltiplas partículas e se espalhava pelo ar como vírus implacáveis que nos contagiam.
Olhei, curiosa, subitamente despertada da dormência. Sei que detectou o meu olhar, mas nem por isso me intimidei.
Agitada, atirou à pressa para dentro da mala todos os objectos que espalhara sobre a mesa. Assim vestida de preto emanava uma energia pesada e o chapéu e óculos de sol, também eles da mesma cor, gritavam medo, vergonha, culpa ou algo assim.
Escondeu-se do meu olhar, mais, fingiu não me ver, fingiu não ver ninguém naquela sala ampla e cheia de pessoas.
Engoliu o último gole de café, desesperada, como se fosse efectivamente o último de todos. Saiu em passo rápido, a cabeça baixa de quem não quer ver nem ser vista. Desaparaceu.
Fiquei ali a sentir ainda a nuvem pesada que deixou para trás. Senti-me acossada pelo rasto do seu nervosismo. Deixei-me assim estar por breves momentos.
Depois saí, à procura de um rasto de luz.

Friday, January 4, 2008

Science

Percebi o processo, detectei as condicionantes, verifiquei quais as ferramentas fundamentais e descortinei o método.
Cumprirei as etapas e observarei as medidas. Os tempos regulamentares apenas eu determinarei e tomarei nota da gradual evolução, das variantes, das tonalidades e das gradações resultantes.
Há uma fórmula exacta e uma conclusão objectiva. Há que investigar. O ponto óptimo estará na convergência de resultados, e se essa não se verificar é porque os pressupostos estão errados. Ainda assim, a experiência valerá a pena, sobressairá a necessidade de desconstruir e recomeçar a partir de novas premissas.

Wednesday, January 2, 2008

Será que as pessoas mudam?

Mudam de ideias, sim. Mudam de hábitos, mudam de vida, mudam de parceiros, mudam de partido politico... Bem, não conheço ninguém que tenha mudado de clube!
Mas e de (não quero usar o termo personalidade, nem o termo carácter) ... digamos, “maneira de ser”?
Olho para dentro de mim à procura de algum momento na minha vida em que tenha mudado a minha “maneira de ser”. Consigo encontrar momentos determinantes na minha história em que mudei a minha perspectiva da vida em geral, a minha forma de estar entre os outros e comigo própria. E sim, acho que isso foi uma mudança fundamental na minha “maneira de ser”.
Ok, acho que continuo a ser a mesma rainha do drama, como sempre, mas de alguma forma espero mais dos outros e de mim própria.
Há no entanto certos aspectos de mim (bons e maus) que sei que não irão desaparecer nunca, e com esses aprendo a lidar todos os dias, tentando uma coexistência pacífica que permita que os maus não me prejudiquem (nem aos outros) e que os bons assim se mantenham.
Vestimos muitas peles, podemos ser aquilo que quisermos, mas há algo bem dentro de nós que nos define, que dita quem somos e como estamos na vida. Será esse algo imutável ad eternum?
E se não acreditarmos que as pessoas mudam vamos acreditar em quê?

Tuesday, January 1, 2008

(re)Começos

Começou bem. Posso dizer que o novo ano começou assim: bem. Não pela festa, não pela celebração, mas pelo passo.
Eis que no meio da dor, das lágrimas e da tristeza algo mais elevado se ergueu.
Afinal não é preciso passas, nem pés direitos, nem cadeiras nem outras superstições. Basta algo muito mais humano e menos esotérico - Atitude.
Na noite que passou alguém ouviu o meu desejo-sem-passas e deu um empurrãozinho para que ele começasse a tornar-se realidade. Mas não foi alguém lá em cima (ou lá em baixo, ou wherever), foi sim aquele alguém revoltado aqui dentro que resolveu abrir uma janelita pequenita e após uma luta renhida consigo mesmo lá decidiu vir espreitar por um momento o fogo de artifício.
O início deste ano marca também o início (ou re?!) de algo importante para nós - o exorcizar da dor e do que passou. E aprendi também uma coisa muito importante - antes de (re)construir há que estender a mão e pegar na massa, e isso, só a nós cabe fazer. Foi o que fizemos, e estou orgulhosa por isso, orgulhosa de mim e de ti.
Não sei qual será o resultado final da obra, mas como diz alguém que muito estimo "o importante não é o destino final, mas sim o caminho que se faz até lá chegar". E agora sim, tenho mais um desejo: que 2008 seja só mais um passo no caminho.